terça-feira, 6 de dezembro de 2016

Quando devo procurar psicoterapia?


        Com frequencia escuto algumas pessoas questionarem qual é o momento certo para começar psicoterapia. A principal dúvida é se o problema e as consequentes angústias são realmente relevantes e importantes.
Todo e qualquer problema, a partir do momento que se torna uma constante, independente do motivo, significa demanda terapêutica. Quando não se consegue chegar a uma solução satisfatória, estar consigo é angustiante e a vida social passa a ser afetada, a indicação de psicoterapia deve ser considerada.


  A seguir cito alguns exemplos, dentre muitos, que sinalizam a indicação para a busca de um profissional.

Compulsões

Compulsões são comportamentos repetitivos que acontecem com certa frequencia e descontrole. As compulsões variam em causas e gravidade. Podem estar relacionadas à alimentação, acumulações, comportamento sexual, uso de drogas etc. 

Depressão, melâncolia, tristeza

Situações de perdas caracterizam o quadro. Estas perdas podem ser reais ou simbólicas, desencadeadas por uma causa única ou situações repetitivas. Se a sensação de tristeza é persistente, mesmo que não se saiba o motivo, é importante buscar ajuda.

Objetivos que nunca são alcançados

Podem estar relacionados à vida profissional ou pessoal, a uma imagem corporal útopica que gera sofrimento ou que está prejudicando a saúde, a um concurso ou vaga de emprego que parece estar muito distante da realidade. Quando os objetivos são inatingiveis algo não está no lugar certo.

Situações de perdas e/ou traumas 

Algumas situações de perdas são bem características em relação ao sofrimento que geram: perda repentina de alguém muito próximo, separações, histórias de abuso, diagnósticos de doenças terminais. Quando a perda não é elaborada de maneira plena pode gerar sofrimento a longo prazo ou mesmo transformar-se em um quadro de depressão ou melancolia.

Ansiedade

O termo ansiedade pode ser definido como aflição, angústia, perturbação pela incerteza. Dependendo da intensidade pode prejudicar a saúde mental e física, desencadeando alguns sintomas que também são refletidos no corpo.
Entre os sintomas estão as preocupações, tensões e medos intensos. Sensação de que algo muito ruim pode acontecer a qualquer momento, sem motivo aparente. Falta de controle sobre pensamentos e atitudes. 

Infelicidade, insatisfação

A insatisfação é um gatilho para a mudança. Quando estamos insatisfeitos a tendência é que façamos algumas mudanças para atingirmos novos objetivos. No entanto pode se tornar um problema quando acompanhada da infelicidade constante ou da estagnação contínua da situação. Em alguns momentos não sabemos ao certo a origem da insatisfação e assim não conseguimos identificar quais são os caminhos necessários para as mudanças.

Repetição de um mesmo "problema"

Quantos vezes observamos que estamos revivendo uma mesma situação por muitas vezes? E por mais que façamos mudanças lá estão as mesmas condições. Inconscientemente fazemos escolhas muito parecidas, não percebemos o quanto nossa procura é semelhante. Quando a repetição é constante e nos leva a caminhos que nos fazem sofrer é preciso olhar para o que realmente nos leva a fazer tais escolhas. 

Escolha profissional

A escolha profissional muitas vezes gera intensas duvidas, afinal escolher uma profissão parece ser algo muito definitivo. A psicoterapia ajuda o sujeito a conhecer melhor quais são suas habilidades e desejos, qual é sua realidade no presente e suas expectativas para o futuro.


Comparar seu problema com o de outra pessoa não é a melhor medida para saber se vale a pena ou não vivenciar a experiência da psicoterapia. Por menor que possa parecer a questão que nos leva ao encontro da terapia, nossos próprios problemas são o que nos causam dores e questionamentos, por isso nunca devem ser menosprezados. 



quinta-feira, 12 de novembro de 2015

Autoestima Feminina

     Quando pensamos em autoestima nos deparamos com questionamentos em relação à aceitação do próprio corpo, dos nossos limites, dos nossos fracassos e de nossas qualidades. A autoestima envolve também  a maneira com que lidamos com o amor próprio e a autocrítica.
    Em nosso cotidiano nos deparamos com questões pertinentes a "independència" emocional e/ou financeira, nossa jornadade dupla (ou tripla) de trabalho e diversas situações que podem exigir demasiadamente nossos esforços. O resultado disso, muitas vezes, pode ser a perda de nossa essencia, ou seja, de traços de nossa personalidade que ficam a mercê de uma exigência social que extrapola nossos limites fisicos, mentais e biológicos.
  Quando perdemos nossa própria referência tendemos a buscar nos outros as respostas que certamente estão incristas em nós mesmas. A insegurança e autocritica demasiadas nos impendem de seguir nossa intuição e de darmos a segurança de nossas proprias respostas.
   O que seria nossa essência? É possível que tenhamos nos afastado dela há tanto tempo que isto dificulta o processo de reconhecimento.
     O feminino envolve questões relacionadas a nutrição, acolhimento, recolhimento, intuição, liberdade e tempo. A nutrição é poder "alimentar" nossas caracteristicas, respeitar nosso tempo e nossas necessidades individuais. Também é aprender a conhecer e escutar o próprio corpo e perceber cada ciclo que se completa em nossa vida. O acolhimento é um ato de amor, é preciso sentir segurança para acolher, é poder compreender o outro dentro de nosso próprio limite. O recolhimento faz parte do fechamento dos ciclos, é o momento de instropecção e o movimento de olhar para si mesma, de maneira sincera e individual. A intuição é aquela certeza que temos, algo que aparece não se sabe muito bem de onde, mas que reconhecemos como verdade genuína. O limite e o tempo precisam ser compreendidos e acolhidos por nós mesmas, sem nos submergirmos em autocriticas e cobranças demasiadas.
     Dentro de cada ser existe a essência feminina e também a masculina, é importante encontrarmos o equilibrio entre estas duas instâncias. Mesmos que tenhamos reconhecido melhor nossas caracteristicas femininas é importante que existam as tomadas de decisões, ação e reação, coragem e atitude. A passividade e o recolhimento intensos nos adoecem tanto quanto a ausência deles.
    E não menos importantes são as dificuldades que envolvem a baixa autoestima. Entre elas estão a insegurança, a necessidade intensa de aprovação para seguir em frente, a baixa de energia, a indisposição, o convívio com pessoas que não nos apoiam. Estas dificuldades, se não identificadas e resignificadas, podem nos levar ao adoecimento psiquico e consequentemente ao adoecimento físico.
     Então como nutrir a si mesma?
     É preciso responder de maneira sincera as seguinte perguntas: Quem sou eu? Do que eu realmente gosto? O que enche meu coração de alegria e faz meus olhos brilharem? Se eu pudesse fazer qualquer coisa sem levar em consideração a opinião alheia, o que seria? É preciso exercitar estas descobertas, procurar atividades que despertem o interesse e a motivação, identificar nossas qualidades, facilidades e limites. As mudanças devem acontecer de forma crescente, gradativa e prazerosa.
    Exercite seu feminino, busque perceber a si mesma como parte integral de um todo, contudo com sua própria essencia e individualidade. O ritual de se adornar, se enfeitar, se preparar para uma ocasião, ter um tempo para cuidar de si mesma, da maneira que mais lhe agradar, é importante para o autoconhecimento e a percepção da autoimagem. Cuide com carinho de si mesma.
     Busque o apoio de pessoas queridas, que fazem criticas construtivas e que apoiam seus planos. Aceite as críticas construtivas de forma positiva.
    Se ainda sim, estiver dificil dar este passo, procure ajuda profissional. Existem grupos para algumas questões específicas, terapias individuais e atividades terapeuticas.
      O carinho e amor precisam ser cultivados, principalmente dentro de si mesma!

quinta-feira, 23 de julho de 2015

Meditação tem aval científico

     A matéria já é antiga (VEJA 2013- link abaixo), mas seu conteúdo é bastante atual. A cada dia mais pessoas tornam-se adeptadas da técnica milenar para encontrar equilíbrio na saúde. Não a toa, pois a meditação proporciona redução do stress, melhora a concentração, regula as emoções (como a depressão e a ansiedade) e resulta em sensação de relaxamento. Dentre outros benefícios também foi estudado a melhoria no sistema cardiovascular, na dificuldade em dormir, alívio da dor e reforço no sistema imunológico. 
      Existem muitas técnicas de meditação e, segundo os estudos, todas atingem os mesmos objetivos. 
 Assim como a meditação, o relaxamento guiado é uma das técnicas utilizadas em psicoterapia, é uma técnica simples e acolhedora. Proporciona ao paciente uma vivência de relaxamento, redução da ansiedade e abranda algumas sensações. Existe o aprendizado, pois à medida que o paciente vivência os relaxamentos torna-se cada vez mais autônomo para realiza-los sozinho e descobrir sua própria forma. Torna-se mais consciente de suas sensações e aprende uma melhor maneira, mais tranquila, a lidar com elas.



Fonte:   http://veja.abril.com.br/noticia/saude/meditacao-ganha-enfim-aval-cientifico/






sexta-feira, 10 de julho de 2015

Por que adoecemos?

     Quando adoecemos nossa primeira decisão é a de exterminar o sintoma e raramente paramos para refletir o motivo de sua existência. Acreditamos que estar doente é algo que nos traz mal estar e passamos a não perceber este fenômeno como uma resposta inscrita em nós mesmos. 
      É frequente segmentarmos o indivíduo em duas instâncias distintas: mente e corpo. Muitas vezes os tratamos de forma separada, o que nos afasta de enxergarmos o indivíduo como um ser único, ignorando a importância de observarmos a existência de um mundo interno, muito pessoal, de onde emergem sentimentos que são manifestados principalmente pela via corporal. O corpo funciona como uma tela para a vida, no qual se inscrevem nossas perfeições e imperfeições, toda nossa trajetória e as experiências emocionais e físicas.  
       Quando observamos nossos sintomas, as ocasiões em que aparecem, as repetições e quando se iniciaram, podemos conhecer mais sobre nós mesmos. Uma emoção que não pôde ser devidamente expressada, um trauma não acolhido, adversidades com as quais temos dificuldades em lidar podem resultar em sintomas como dores, incômodos ou até mesmo em doenças graves, degenerativas e crônicas. Quando não estamos em equilíbrio nosso corpo se torna suscetível a um possível adoecimento. O desequilíbrio contínuo pode gerar sintomas físicos e psicológicos, influenciando o sistema imunológico. 
       A maneira como o sujeito adoece depende de fatores como as experiências vividas, o momento existencial, as tendências genéticas e o seu desenvolvimento psíquico. Muitas vezes deixamos em segundo plano o aspecto psicológico, que constitui a subjetividade e individualidade de cada um. Compreender nossas emoções nos leva a encontrar o equilíbrio e nos torna mais fortalecidos para lidar com o que nos afeta. 
        Durante o acompanhamento de pacientes com histórico de doenças ou dores crônicas é importante a avaliação orgânica realizada por um médico. A avaliação médica é muitas vezes a primeira manifestação da “procura por ajuda” de uma pessoa em desarmonia. No entanto muitas vezes, tratamentos sem bons resultados, exames complementares sem quaisquer alterações e a persistência de lesões levam a um desnorteamento de profissionais e pacientes. Isto acontece sempre que o foco de tratamento é a doença e não o indivíduo.
         Considerar o adoecimento da mente pode ser peça chave para um diagnóstico e tratamento eficientes. A psicoterapia voltada à psicossomática trabalha o fortalecimento emocional e a compreensão de si mesmo, propicia o conhecimento das próprias limitações e auxilia na descoberta de caminhos para mudanças de alguns padrões que nos fragilizam. Além disso, relaciona como tais fatos coexistem com as dores e possíveis lesões orgânicas que se apresentam. A manifestação dos sintomas é um sinal de que algo não está fluindo bem há algum tempo. Uma emoção pode ser ignorada, um sintoma dificilmente é. O corpo pede o cuidado que a mente necessita.



segunda-feira, 30 de junho de 2014

Ser mulher - Considerações sobre o mito de Psiquê e suas representações

    Os mitos são ricas fontes de insights psicológicos, ou seja, são histórias que nos fazem pensar sobre como percebemos e compreendemos algumas coisas em comum uns com os outros. Nos permitem nos identificar com algo, pois são produtos de uma imaginação coletiva, experimentados por toda uma cultura. 
    Muitos dos termos utilizados nas práticas clínicas e acadêmicas surgiram de histórias e mitos, como por exemplo o Complexo de Édipo e o Narcisismo. Um mito pode ser uma fantasia, um produto da imaginação, todavia quando é inúmeras vezes contado e repassado torna-se real e verdadeiro; descreve níveis da realidade que incluem elementos do mundo racional exterior, assim como o supostamente incompreensível mundo interior de cada um.
    Consideramos então que na psicologia os mitos podem ser utilizados como base de estudos sobre as estruturas arcaicas da personalidade humana, onde pode-se perceber a expressão de padrões psicológicos básicos.
   Uma vertente da Psicologia que se baseia nos mitos e percepções coletivas é a linha Analítica, desenvolvida por Jung. Meu trabalho como psicóloga clínica baseia-se fundamentalmente na linha "freudiana", no entanto é inevitável pensar em psicanálise sem considerar elementos analíticos, corporais, espirituais, sociais e comportamentais. 


Amor e Psiquê – mito antigo, pré-cristão

    Vamos pensar mitologicamente! Sentimentos importantes aparecem quando alcançamos o pensamento psicológico que os mitos, contos de fadas e nossos próprios sonhos nos trazem.  As histórias podem parecer arcaicas e distantes de nós, mas se prestarmos atenção poderemos entender o significado e interpretar os símbolos que sempre se fazem presentes.
   “Amor e Psique” pode ser interpretada como uma demonstração da personalidade feminina.  Este mito fala não somente da mulher, mas também da essência feminina que existe no homem (anima), já que todos temos a essência do sexo oposto em nos mesmo para atingirmos um equilíbrio.  A associação é mais óbvia para a mulher, por ser a feminilidade sua principal condição psicológica.

   Psique filha de um rei e uma rainha, e tinha duas irmãs que também eram princesas. No entanto, Psique, era uma pessoa extraordinária: bonita, charmosa; sua forma de falar e o todo de sua personalidade resultaram em um culto de adoração. As pessoas diziam “eis que então, surgiu uma nova Afrodite, eis que surge uma nova Deusa”.
     Afrodite era considerada, e ainda é, uma divindade arcaica da feminilidade.
Quando os genitais de Urano foram cortados, caíram e fertilizaram o mar, resultando o nascimento de Afrodite. O momento foi imortalizado na Obra de Botticelli. Psique havia nascido de uma gota de orvalho que caíra do céu sobre a terra. A diferença entre os dois nascimentos, revela as naturezas diversas das duas deusas. Afrodite é a feminilidade oceânica, reina no amplo inconsciente. Toda mulher tem em si uma Afrodite, é muitas vezes não é fácil lidar com ela. As características simbolizadas por essa deusa são a luxuria, a fertilidade e a tirania, quando contrariada. Afrodite, com seu espelho, está sempre a se admirar; é invejosa e competitiva, não tolera competição, é cheia de truques instintivos e primitivos. Quando uma nova forma de feminilidade aparece, essa antiga deusa da feminilidade fica irada; usa de todas as armas para subjugar oponentes. Toda mulher sabe disso através de suas súbitas regressões à sua própria natureza Afrodite.
   Ainda sim, está é uma personalidade importante. Afrodite é o instinto materno básico, necessário à sucessão da espécie. Na realidade, Afrodite não tenta destruir Psique, mas faz todo o possível para vê-la crescer.  Há algo bonito a respeito disso: é quando se chega o tempo de crescer, quando as velhas formas e velhos hábitos dão boas vindas aos novos, dando luz à nova consciência.
   Afrodite é dura, não se torna simpática a nossos olhos, há todo um processo de profunda dor. A natureza de Afrodite nesse caso é regressiva e puxa o ser de volta a inconsciência ao mesmo tempo que o força a entrar na nova vida. Muitas jovens só se desenvolvem com sogras tiranas e madrastas difíceis, pois muitas delas são verdadeiras Afrodites, mas são aquelas que possuem um elemento capaz de ativar o crescimento. Muitos dos conflitos da mulher moderna se resume na colisão de duas naturezas intrínsecas – Afrodite e Psique.
Psique nasceu da gota de orvalho e caiu na terra. A terra é um representante simbólico da consciência.  Em Psique, ao vez das grandes proporções oceânicas , temos as controláveis águas de uma gota de orvalho. A natureza de Psique é pura, é adorada, mas não é cortejada, sendo esta uma experiência absolutamente solitária. Psique encontra marido, seu pai vai verificar com o oraculo o que deve ser feito.
    Há também uma Psique toda mulher, o que significa ser muito sozinha. Toda mulher é de certa forma filha de um rei: é amável, é perfeita e tem uma riqueza interior muito individual em um mundo comum. Esta sensação de ser solitária e incompreendida se faz presente em diversos momentos e tornam-se em alguns momentos conscientes, mesmo sem uma origem definida. Esse lado permanecerá durante a vida da mulher intocado, desligado e solteiro.


(Fragmentos baseados no livro She: A chave do entendimento da Psicologia Feminina-  Johnson, Robert A.)